quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Trabalhar com Rubén era Diversão!














Os vinhedos estavam prontos para a colheita, as pessoas chegavam para o trabalho e logo passavam na sala de Rubén para acertar salário, carga horária e benefícios.


Benefícios?


Sim, Rubém chamava de benefícios as garrafas que abria na hora do jantar para cerca de 30 trabalhadores.


O vinho realmente merecia tal tratamento.


Considerado um dos melhores da Espanha e vendido a peso de ouro nos Estados Unidos e Ásia, era distribuído sem nenhuma cerimônia para os trabalhadores temporários.


Alguns vinham todos os anos, trabalhavam, degustavam os vinhos e voltavam para o trabalho de verdade em seus países. Isso são palavras deles!


Apesar do trabalho duro, eles tratavam aquilo como diversão.


Férias.


Trabalho mesmo era na cidade grande.


Pressão, horários, chefia, politicagem, competição e traição.


Palavras deles outra vez.


Rubén fazia questão de servir uma safra a cada noite de colheita.


Eram raridades.


Vinhos que não existem em outros lugares a não ser aquele e em algumas casas de leilão que tratavam aquelas garrafas como se trata um filho recém nascido.


Rubén era criticado por isso.


Os vizinhos reclamavam que não tinham bons trabalhadores, pois todos queriam trabalhar com Rubén.

A gota d'água foi no último dia, que coincidiu com o aniversário da vinícola.


Cada trabalhador, recebeu uma garrafa do vinho, em uma caixa de madeira com a inscrição: Gracias por todo!


Dessa vez o silêncio aparente dos vizinhos acabaria.


Maria del Rocio não era das mais simpáticas da região, portanto já não conseguia mão de obra fácil.Andou apressada pelas estradas estreitas.


Quem olhava de longe pensava na semelhança com um trator levantando poeira por onde passava.


O olhar era de puro ódio. Olhar de raiva, olhos arregalados, punhos cerrados e uma vontade louca de dar de cara com Rubén.


Pronto!


-O que está fazendo? Ficou louco? Garrafas caras, trabalho duro, ameaças do clima, pragas, e possibilidade de fazer muito dinheiro, nada disso passa pela tua cabeça?

-Rocio, não passa pelo tua cabeça que sem eles não temos colheita. Nunca pensou que os preços que colocam nas garrafas são fruto de especulação. Já pensou como são raras estas garrafas, mas percebeu que para mim elas são meu dia a dia. Vejo estas garrafas desde os 6 anos de vida, não são nada demais para mim. O vinho realmente é fantástico, o único que me emociona. Mas penso que em muitas mesas chiques bebem este vinho como bebem uma coca-cola e aqui não. Olho para o rosto destes trabalhadores e percebo como se sentem importantes provando o vinho. Vejo pessoas que poderiam comprar várias garrafas destas, mas que preferem voltar todos os anos, enfrentar o sol, o trabalho duro e beber como quem bebe ouro.


Neste momento o olhar de Rocio já mudou. Ela olhava ainda com certo espanto, mas tinha no fundo do olhar um sentimento de simplicidade, de ver de perto como as coisas são simples.


Rubén continuou: -Sabe quanto custa um dia de trabalho em baixo de um sol de 40 e "picos" em Ribera del Duero? Sabe quanto vale levar pra casa a gratidão?


Herdei do meu avô além dos vinhedos o respeito dos trabalhadores. No ano em que choveu fora de hora e não engarrafamos nada, eles choraram comigo, enquanto os teus trabalhadores contavam piadas...







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