segunda-feira, 4 de maio de 2015

Abdul, Aharon, Lea... O amor... - Conto







Abdul era carinhoso demais.

Sempre fazendo elogios, sempre demonstrando seu amor.

As mulheres que passaram pela vida de Abdul jamais o esqueceram.

Muitas vezes voltavam, rodeavam, ficavam por perto.

E olha que se ele seguisse a risca sua religião poderia ter pelo menos 4 delas ao mesmo tempo.

Mas ele nasceu na França, filho de argelinos.

Seguia os ensinamentos do Alcorão com sabedoria.

Sempre pregava a paz, exercia a paz.

Era bom filho, bom patrão, bom amigo, bon vigneron...

Os 50 hectares de vinhedos na margem direita de Bordeaux garantiam a ele a um rendimento bastante razoável que além dos seus 1 metro e 90, olhos verdes e corpo atlético agregavam mais algum valor na "bolsa de futuros" das mulheres da região (e porque não de fora).

Ele era ao mesmo tempo o sonho e o possível pesadelo do que imaginava Lea.

Ela era judia e pensava que os pais não aceitariam muito facilmente o envolvimento com um muçulmano.

Alta, magra, olhos verdes, cabelos castanhos claros e um corpo que certamente encheria de inveja garotas de Ipanema.

Ela tinha 1 metro e 80.

Sofria com a falta de homens que pudessem olhar nos olhos sem sentirem uma certa inferioridade.

Abdul era o homem perfeito.

O envolvimento aconteceu como num passe de mágica.

Abdul como sempre não economizava palavras para demonstrar sua paixão.

Lea era comedida.

A paixão se transformou em amor em menos de uma semana.

Os dois não se largavam.

Para cada mil vezes "Eu te amo" uma resposta em voz baixa, quase inaudível: eu também te amo...

Por onde andavam eram reconhecidos e sempre provocavam comentários.

Pela beleza do casal, pela simpatia do casal... Não passavam sem serem percebidos.

Também pudera...

Somados tinham quase 4 metros.

Abdul não conhecia a familia de Lea, mas resolveu comprar uma aliança comprovar de uma vez por todas o seu sentimento.

Entrou na joalheria de Monsieur Aharon.

O senhor de barba branca, solidéu e olhar bondoso, atendeu Abdul como fazia com todos os clientes.

Muita cortesia, respeito, informações dobre o que vendia e competência única.

Perguntava bastante também.

Em 30 minutos era capaz de falar para o próximo freguês toda a história de Abdul.

Perguntou sobre a moça, sobre o trabalho do rapaz com os vinhos, sobre a safra, sobre as intenções dele, sobre sua família, sobre tudo...

Abdul saiu, encontrou Lea e logo armou a cena para a entrega do presente.

Ela ficou muito feliz, muito lisonjeada, muito preocupada.

Como seus pais aceitariam essa união com um muçulmano???

Foram 7 dias de insônia.

Abdul era completamente desligado sobre o assunto.

Achava realmente que sua fé não era capaz de influenciar na vida de ninguém.

Nunca olhou com preconceito para ninguém, nem percebeu nenhum olhar atravessado, já que tinha o hábito de cuidar unicamente da própria vida.

Lea não resistiu e ameaçou desfazer tudo, devolver o anel e abrir mão do maior amor de sua vida.

Teria feito exatamente isso, não fosse o acaso.

Ela deixou o anel em cima da mesa da sala de sua casa.

Seu pai chegou e reconheceu a peça instantaneamente.

-Lea... Lea... O que é isso?

-Não é nada pai.

-É sim.

-É um anel comprado por um homem apaixonado.

Um homem de bem. Um homem respeitado que conhece o ciclo dos vinhedos e da vida.

Um homem que faria tudo pela pessoa a quem entregou o anel.

-Como sabe disso pai?

-Abdul comprou esse anel na minha loja.

Lea não sabia qual era o sentimento naquele momento.

Era uma alegria tão forte, um orgulho tão grande, que ficou sem palavras.

Lágrimas corriam dos seus olhos verdes.

As pernas tremiam.

O celular caiu das mãos.

O abraço ao pai Aharon foi forte, intenso, definitivo.

Abdul veio para o jantar.

Conversaram por horas, e se em meia hora Aharon descobriu quase tudo, agora sabia mais da vida de Abdul do que ele mesmo.

1 ano depois na presença de cristãos, judeus e muçulmanos, os dois se uniram com a benção divina.

Lea aprendeu que não se pode imaginar o pensamento dos outros e aprendeu a dizer "eu te amo" sempre que tivesse oportunidade.

Abdul aprendeu que o mundo pode muito bem ser feito daqui pra frente.

Aharon ensinou que o melhor da vida, é ser um fio condutor de felicidade...


0 comentários:

Postar um comentário