terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

O Dia em que Gino Chorou!









Já tive o prazer de apresentar Gino neste blog. Foi a história do final de semana preso na adega vivendo de pão e vinho. A que vou contar hoje foi muito mais doída. O ano de 2002 teria uma safra normal não fosse a fase mais crítica: o verão. A chuva começou cedo e ia e voltava a cada dois dias. Sig. Cláudio disse a Gino que ficasse atento com o perigo das pragas no meio de tanta humidade. Gino fez o que pôde, trabalhava noite e dia se fosse preciso, mas as plantas estavam intactas. Os outros trabalhadores chegavam a debochar de Gino, perguntando quanto teria de aumento salarial, mas Gino não ligava. Passou a vida fazendo isso e tem certeza que vai até a morte cuidando dos vinhedos do Piemonte. A maturação começou como o planejado e Gino estava orgulhoso mostrando o trabalho para o proprietário Cláudio. O problema é que depender do clima não é fácil nem para um produtor de batatas, quanto mais de uvas. A chuva veio como um dilúvio, alagou cidades, deixou vilas ilhadas e acabou com as vinhas de Gino. Com o rosto molhado não se sabia se de tantas lágrimas ou de chuva, Gino corria entre os vinhedos e cortava cachos de uva como se isso valesse para alguma coisa. Signor Cláudio via o desespero de Gino e tentava acalmá-lo. A chuva foi implacável! Gino chorou a noite toda, o dia seguinte todo e o ano de 2002 nunca saiu de sua cabeça. A maturação tardia da Nebbiolo tira o sono de Gino durante toda a época da colheita, ano após ano. Em compensação quando dá tudo certo, a alegria é tão incontrolável como o choro da tristeza. Gino ama o vinho como ninguém, trata a bebida com um respeito incrível, trata das uvas como filhas e quando está de folga o que mais gosta é ficar olhando os vinhedos tentando esquecer o terrível ano de 2002.

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