Valerie, Gilbert, Chuva, Suor e Cerveja!
O céu ficou preto naquela tarde de Agosto.
Justo naquela parte do Languedoc em que a chuva só aparece quando não tem mesmo outro lugar para cair.
Valerie correu para chamar Gilbert, que a essa altura assistia uma partida de rugby importantíssima enquanto bebia, acredite, cerveja.
-Dépêche-toi!
Repetia Valerie.
Obedecendo a pressa, Gilbert se levantou e correu para ver o que estava acontecendo.
Olhou para o ceu e só para tirar a importância do aviso de Valerie deu de ombros, voltou, pagou a cerveja, viu o último lance da partida e saiu.
No caminho, enquanto Valerie repetia que a chuva cairia a qualquer momento, Gilbert sorria, andava a passos lentos e reclamava de ter perdido boa parte da partida de rugby.
Valerie ficou brava. Muito brava.
Apertou o passo.
E numa mistura de insanidade e disposição começou a colher tudo que podia.
Alguns vizinhos vieram ajudar.
Estavam a dois dias da colheita e as uvas podiam muito bem ser colhidas sem grande prejuízo no amadurecimento
Gilbert olhava com um leve sorriso no rosto enquanto a ameaça de chuva continuava.
Por alguns minutos assustava, por outros parecia que não passaria de uma ameaça.
Valerie fez algumas fileiras e colheu um bom tanto de uvas numa rapidez frenética.
O rosto normalmente branco como a neve, agora estava vermelho como um pimentão. Mas Valerie não parava.
O vento foi aumentando e Gilbert continuava sorrindo como se tivesse um pacto com o tempo. Como se a chuva tivesse respeito por ele.
Foram mais 15 minutos de suor e colheita frenética.
Gilbert foi obrigado a engolir o sorriso, levantar e ajudar.
Mas bem pouco.
Poderia ter ajudado mais.
A chuva feio forte.
Veio com granizo.
Todos os cachos que ficaram no pé foram perdidos.
As uvas colhidas por Valerie e vizinhos se transformaram num bom vinho que garantiu o pagamento das contas até a próxima safra.
Gilbert?
Gilbert nunca havia sido tão escorraçado em toda a vida.
Passou o ano todo com aquele peso.
Aquela lembrança.
Quando perguntado sobre sua atitude estúpida e infantil Gilbert respondia: No Languedoc isso é raro. Não era época de granizo. Coisa estranha!
Foi a cerveja...
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