sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Meu Artigo Sobre a Borgonha na Revista Free Time

Muita gente que ama os vinhos visita Paris e não sabe que está a menos de duas horas de TGV de uma das regiões vinícolas mais fantásticas do planeta. Eu descobri isso em 1985, e não parei mais. Nenhum vinho foi tão apreciado pela realeza francesa como os vinhos elegantes e sutis produzidos na Borgonha. Na França, quem entende do assunto costuma dizer que ninguém conhece mais a terra e o cultivo das uvas do que os produtores da região. Em 1789, a Revolução Francesa redistribuiu as terras e formou a colcha de retalhos que permanece até hoje, assim, não existem grandes produtores, os lotes de terra onde estão os vinhedos são pequenos, e os grandes de lá seriam pequenos em outras regiões. Desde o século XVIII, sabe- se que o lugar é ideal para a Chardonnay e para a Pinot Noir, e muito antes disso, em 1395, tentaram até banir a Gamay. A Borgonha é uma faixa de terra que vai de Chablis até bem perto de Lyon. De lá saem em média 390 milhões de garrafas por ano de seus 45 mil hectares de vinhedos. Como na maioria das vezes não existe corte com outras variedades, é interessante perceber que vinhos feitos exatamente na mesma região, muitas vezes separados por 50, 100 metros, utilizando os mesmos métodos e na maioria das vezes o mesmo tipo de barrica, mostram diferenças fantásticas que traduzem perfeitamente a palavra terroir. Esse é o maior mistério da Borgonha. Um vizinho pode produzir um Grand Cru (de maior reputação), o outro um Premier Cru, e ainda vinhos Village ou Appellation Regional Bourgogne.

Embora a Chardonnay e a Pinot Noir sejam as estrelas absolutas, pouca gente comenta outras variedades autorizadas e utilizadas:

Brancas: Chardonnay, Aligoté, Pinot Blanc, Pinot Gris, Sauvignon Blanc, Melon, Damery, César Blanc, Cheignot.

Tintas: Pinot Noir, Gamay, César, Tressot , Cot, Gascon .

A maior parte do solo da Borgonha é formado de calcário, e em menor quantidade argila, granito e areia. O clima tem invernos frios e pouca chuva, e verão quente com a média em julho chegando aos 20 graus. Divide-se em Chablis, Côte de Nuits, Côte de Beaune, Côte Chalonnaise, Mâconnais e Beaujolais.

Os vinhos tintos mais simples, como o Bourgogne Passetoutgrains e o Bourgogne Pinot Noir, devem ser bebidos após dois ou três anos em garrafa, assim como os Beaujolais Village. Os grandes vinhos devem envelhecer cerca de 10 anos, embora alguns vinhos muito complexos possam envelhecer 30 anos ou mais.

Das regiões citadas, duas receberam um apelido especial: Côte de Nuits e Côte de Beaune formam a Côte D’Or. O nome vem da cor da folhagem dos vinhedos na época da colheita que ganha tons dourados, uma maravilha!!! Nos dias de hoje está repleta de pequenos produtores que produzem em espaços muito pequenos chamados Vins de Garage. O biodinamismo também está crescendo, embora muitos tenham entrado na onda por marketing.

As principais vilas da Côte d’Or são: Gevrey Chambertin, Morey-St-Denis, Chambolle-Musigny, Vosne-Romanée (vila especial onde se produz o famoso Romanée Conti), Aloxe-Corton (produz os brancos Corton Charlemagne), Beaune e Savigny-les-Beaune, Pommard , Meursault, Puligny Montrachet e Chassagne Montrachet .

Quem resolver fazer essa rota de sonhos deve escolher a cidade de Beaune para se hospedar, comer bem, visitar as lojas que só vendem artigos ligados ao vinho e visitar o Hospices de Beaune, fundado em 1443, como hospital, e que funcionou como tal até 1971. É uma casa de caridade financiada pelos seus 58 hectares de vinhedos. O famoso leilão beneficente acontece em novembro, e os vinhos são vendidos no barril.

Fora da Côte d’Or, os vinhos de Chablis (secos, minerais e com boa fruta), Côte Chalonnaise, Bouzeron , Rully , Mercurey e Mâconnais (destaco Puilly-Fuissé). Além desses, temos os polêmicos Beaujolais, o caso mais perfeito de marketing às avessas. O Beaujolais Nouveau virou quase um mico arrastando consigo os excelentes e complexos Cru de Beaujolais de Moulin-à-Vent e Fleurie. Hoje, quase todo mundo fala mal do Beaujolais esquecendo a proposta inicial simples do vinho.

Bem, quem realmente seguir esse caminho da Borgonha, não vai conseguir sair dele. A ânsia de voltar para redescobrir será muito grande. Se provar a culinária então será uma condenação. Queijos regionais com algumas fábricas no caminho, Poulet de Bresse, Boeuf Bourguignon, Escargots à la Bourguignone, Coq au Vin...

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