quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Elodie e Marcelo se fecharam na Pont des Arts...







A viagem seria um tédio.

Quase 12 horas dentro de um avião não é um exercício de paciência.

Marcelo comprou livros, se informou sobre a programação de entretenimento à bordo, pediu ao médico um remédio pra dormir, pensou em tudo.

Quase tudo.

Não imaginava que sentaria ao lado da bela e simpática Elodie.

Ele não falava francês, mas ela falava português com um sotaque tão charmoso, que podemos dizer que falava português melhor que os portugueses...

Enquanto arrumava a bagagem de mão, e nem sabia ao certo onde se sentaria ela já puxou assunto.

Ele levou um susto!!!

-Será que é comigo???

Era.

A conversa só não durou mais tempo porque o voo era direto, sem escalas...

3 beijos no rosto e um cartão.

Foi o que Marcelo ganhou depois de 12 horas de conversa e nem um segundo de sono.

O normal seria chegar no Hotel e dormir, mas depois daquela noite o sono não chegava de jeito nenhum.

Resolveu ir direto no endereço do cartão.

Na loja de vinhos, Marcelo perguntou em inglês e tudo que ouviu foi uma espécie de sopro e um balançar de ombros.

Mas parece que as palavras em inglês foram bem compreendidas.

Elodie desceu as escadas e nem parece que tinha perdido uma noite de sono.

Os olhos verdes brilhavam.

O andar quase que flutuante e o corpo leve e ligeiro parecia uma folha levada pelo vento.

A felicidade de Elodie era clara. Direta.

Dessa vez como se fossem velhos conhecidos ele ganhou um abraço.

Um belo abraço diga-se de passagem.

Elodie agarrou sua mão e saiu pela Rue du Sentier entre lojas de queijos e boulangeries...

Os dois conversavam como se tivessem anos de convivência.

Andaram por duas horas e marcaram de se encontrar a noite.

Marcelo voltou ao hotel, tomou um banho e esperava a hora do encontro quando...

Pegou no sono.

Dormiu até o dia seguinte deixando a bela Elodie esperando por horas em um bistrô na Île Saint Louis.

No dia seguinte Marcelo correu para a loja de vinhos.

Falou inglês, ouviu o sopro, viu o balançar de ombros e nada de Elodie.

Esperou por horas vendo cada um dos 2500 rótulos da loja.

Saiu par almoçar, voltou, esperou mais 2 horas.

Comprou uma garrafa de Champagne.

Tentou ouvir mais do que um sopro.

Tentou até algumas palavras em francês.

Nada.

Voltou para o hotel e nem o sonho de conhecer a Champs Elysées animava Marcelo.

A noite resolveu voltar para a loja e esperar a noite toda até que as portas abrissem.

Por volta das 9 da manhã o mesmo sopro, o mesmo balançar de ombros e mais nada.

Entrou na loja e ficou vendo os vinhos.

Encontrou um inglês que lhe explicou cada rótulo e cada região.

Foi almoçar, voltou, comprou outra champagne, esperou e recebeu um bilhete do atendente da loja: Imagino que tenha dormido, estou no Loire, volto hoje mesmo.

20 hs no mesmo bistrô.

Dessa vez Marcelo chegou as 6 da tarde e esperou até a chegada de Elodie.

As 8 em ponto ela entrou flutuando.

Os cabelos longos pareciam em câmera lenta, acho que Marcelo viu aquela imagem em câmera lenta.

De novo nem bem sentou e a conversa fluiu.

Saíram e andaram por toda Paris.

Beijaram.

Abraços, palavras e até planos.

Quando passavam ao lado do Rio Sena ela deu pra ele um cadeado.

Marcelo se despediu e ele voltou pro hotel sem entender nada.

Elodie já tinha deixado claro que antes de ficarem juntos, ele teria que entender o cadeado.

Aí sim podia procurá-la.

Mais uma noite sem dormir.

Andava com o cadeado pra cima e pra baixo.

Perguntava em inglês para todos os franceses que encontrava.

Foi por acaso que passou pela Pont des Arts e viu os cadeados pendurados por toda a grade de proteção entre a calçada e o rio.

Olhou, examinou e viu o que significava.

Prendeu o cadeado escrito com um prego: Marcelo e Elodie.

Voltou correndo pra loja, ouviu de novo um sopro e um balançar de ombros, mas logo depois viu Elodie.

Marcou o jantar e sinalizou que tinha matado a charada.

Comeram, caminharam e chegaram até a ponte.

Marcelo marcou o lugar exato com os passos.

25 passos e lá estava o cadeado.

Elodie olhou, abraçou Marcelo e daquele dia em diante os dois estavam presos.

Um ao outro.

Como de costume.

Como normalmente acontece em Paris...

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