Estar
cada dia em uma cidade, sair da Itália, dormir na França, almoçar na Espanha,
não era nada incomum para Guillermo.
Era
o gerente de vendas de uma das maiores vinícolas do mundo e levava a vida
acompanhando o trabalho dos vendedores nestes 3 países.
Não
tinha mulher, filhos, namorada...
Vivia
trabalhando e aproveitando a vida sem deixar nem rastros e nem lastros.
Era
um observador com uma lógica impressionante. Sabia em poucos minutos o que uma
pessoa estava fazendo ou com quem estava falando só pelo olhar, pelo gesto.
Gostava
de observar as pessoas ao telefone e mesmo sem ouvir nenhum som, sempre sabia
do que se tratava.
É
interessante esse exercício.
Gostava
de histórias de amor, talvez por ele mesmo ser um solitário convicto, que se
observado por outro como só ele sabia observar, o resultado seria uma pessoa
com medo de se apaixonar, medo de conseqüências e desilusões.
Se
houve alguma desilusão na vida de Guillermo, ninguém sabe, mas provavelmente
ouve uma das grandes.
Naquela
manhã saiu cedo de Burgos.
Da
janela do trem que levava para a França, viu um jovem senhor se despedindo da
namorada, saindo com uma pequena mala e com os olhos cheios d’água.
Para
qualquer pessoa seria uma despedida antes de uma viagem, mas para Guillermo a
história era muito mais completa.
Num
pequeno caderno de anotações, ele escreveu:"
Saiu
sem olhar pra trás, com o rosto e atitude de quem está indo para sempre.
Ela
olhou a partida com muita dor, no rosto a mesma fisionomia que se vê em
velórios, em sala de espera de centro cirúrgico.
Ele
entrou no trem e abaixou a cabeça, nenhum olhar pra trás.
Colocou
as mãos nos olhos, cobriu o rosto, num choro silencioso e solitário".
O
Trem partiu, dessa vez só com paradas rápidas, que não impediram que uma moça
loira, de olhos levemente puxados, verdes, corpo magro, subisse com lágrimas e
um telefone inseparável que funcionava à todo vapor.
Fora
do trem um rapaz mais baixo do que ela, talvez mais jovem também, se despedia
sem a mesma força, mas cumpria certinho o ritual.
Nas
anotações, Guillermo explicava: "uma despedida longa para um Período breve.
Antes
de sair dos braços dele, ela chorava, mas logo ao entrar no trem os olhos já
estavam secos e só levemente vermelhos.
Um
namoro intenso e breve."
Durante
o caminho até Bordeaux, ele acompanhou o comportamento dos dois e com certeza,
sabia mais dos personagens do que eles próprios.
Desceu
em Bordeaux e guardou o caderninho, parou de observar e foi para o hotel
mecanicamente.
Colocou
as coisas no quarto, desceu para jantar e tomar uma taça de vinho.
Sempre
solitário, mas sempre simpático, conversador.
Era
sempre o conselheiro de quem se aproximasse.
Nos
hotéis onde se hospedava com freqüência, conversava, aconselhava e pouco falava
da própria vida.
Para
fechar a noite ouviu os lamentos do maitre do restaurante do hotel que acabara
de se separar.
No
final se despediu do amigo dizendo: “assim é a vida. Os amores são acompanhados
de emoção, felicidade, dor e muitas vezes sofrimento.
Hoje
percebo tarde demais, com a ajuda do poeta Pablo Neruda, que o maior dos
sofrimentos, é nunca ter sofrido...”
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