quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

O maior observador do mundo - conto
























Estar
cada dia em uma cidade, sair da Itália, dormir na França, almoçar na Espanha,
não era nada incomum para Guillermo.


Era
o gerente de vendas de uma das maiores vinícolas do mundo e levava a vida
acompanhando o trabalho dos vendedores nestes 3 países.


Não
tinha mulher, filhos, namorada...


Vivia
trabalhando e aproveitando a vida sem deixar nem rastros e nem lastros.


Era
um observador com uma lógica impressionante. Sabia em poucos minutos o que uma
pessoa estava fazendo ou com quem estava falando só pelo olhar, pelo gesto.


Gostava
de observar as pessoas ao telefone e mesmo sem ouvir nenhum som, sempre sabia
do que se tratava.


É
interessante esse exercício.


Gostava
de histórias de amor, talvez por ele mesmo ser um solitário convicto, que se
observado por outro como só ele sabia observar, o resultado seria uma pessoa
com medo de se apaixonar, medo de conseqüências e desilusões.


Se
houve alguma desilusão na vida de Guillermo, ninguém sabe, mas provavelmente
ouve uma das grandes.


Naquela
manhã saiu cedo de Burgos.


Da
janela do trem que levava para a França, viu um jovem senhor se despedindo da
namorada, saindo com uma pequena mala e com os olhos cheios d’água.


Para
qualquer pessoa seria uma despedida antes de uma viagem, mas para Guillermo a
história era muito mais completa.


Num
pequeno caderno de anotações, ele escreveu:"


Saiu
sem olhar pra trás, com o rosto e atitude de quem está indo para sempre.


Ela
olhou a partida com muita dor, no rosto a mesma fisionomia que se vê em
velórios, em sala de espera de centro cirúrgico.


Ele
entrou no trem e abaixou a cabeça, nenhum olhar pra trás.


Colocou
as mãos nos olhos, cobriu o rosto, num choro silencioso e solitário".


O
Trem partiu, dessa vez só com paradas rápidas, que não impediram que uma moça
loira, de olhos levemente puxados, verdes, corpo magro, subisse com lágrimas e
um telefone inseparável que funcionava à todo vapor.


Fora
do trem um rapaz mais baixo do que ela, talvez mais jovem também, se despedia
sem a mesma força, mas cumpria certinho o ritual.


Nas
anotações, Guillermo explicava: "uma despedida longa para um Período breve.


Antes
de sair dos braços dele, ela chorava, mas logo ao entrar no trem os olhos já
estavam secos e só levemente vermelhos.


Um
namoro intenso e breve."


Durante
o caminho até Bordeaux, ele acompanhou o comportamento dos dois e com certeza,
sabia mais dos personagens do que eles próprios.


Desceu
em Bordeaux e guardou o caderninho, parou de observar e foi para o hotel
mecanicamente.


Colocou
as coisas no quarto, desceu para jantar e tomar uma taça de vinho.


Sempre
solitário, mas sempre simpático, conversador.


Era
sempre o conselheiro de quem se aproximasse.


Nos
hotéis onde se hospedava com freqüência, conversava, aconselhava e pouco falava
da própria vida.


Para
fechar a noite ouviu os lamentos do maitre do restaurante do hotel que acabara
de se separar.


No
final se despediu do amigo dizendo: “assim é a vida. Os amores são acompanhados
de emoção, felicidade, dor e muitas vezes sofrimento.


Hoje
percebo tarde demais, com a ajuda do poeta Pablo Neruda, que o maior dos
sofrimentos, é nunca ter sofrido...”

0 comentários:

Postar um comentário