domingo, 11 de janeiro de 2015

O Nariz de Maribel... Conto







Mariano comprava as uvas de Jaume, os equipamentos para produção do vinho foram comprados na mesma época, mesma qualidade, mesmo modelo. 

A colheita era feita da mesma forma, as mesmas barricas Seguin Moreau, o mesmo tempo de uso, a mesma tosta, tudo igual.

Só que o vinho de Mariano era melhor. 

Mais redondo, mais elegante, mais aromático, mais equilibrado.

Quando os vinhos eram levados para alguma avaliação Jaume já sabia que seus vinhos seriam derrotados pelos vinhos de Mariano.

Pior de tudo é que provava os vinhos e concordava que a qualidade do vizinho e amigo era superior.

Chegou a conclusão óbvia que a única coisa que diferenciava a elaboração de um vinho e outro era o corte, a assemblagem.

Jaume e Mariano produziam vinhos com Tempranillo e Merlot, as porcentagens de cada um era particular e não era de bom tom perguntar como o outro fazia, se não os vinhos seriam iguais e não teriam razão de existir.

O próprio Jaume provava os vinhos, ensaiava as misturas até escolher o corte ideal.

No caso de Mariano a tarefa cabia a sua filha. Ninguém sabia disso.

Maribel perdeu a visão na infância, saia pouco de casa, passeava pelos vinhedos e tocava as uvas com um carinho impressionante.

Na época de preparar o corte dos vinhos, entrava no laboratório da vinícola, cheirava o Merlot, cheirava o Tempranillo e começava a corrigir os defeitos de um, ressaltar as qualidades do outro e se deliciar com os aromas que saltavam das taças.

Normalmente em pouco mais de uma hora o trabalho estava concluído. Com segurança, sem dúvida ou interferência mercadológica. Fazia o corte que lhe agradava!

Um dia Mariano disse para Jaume que compraria seus próprios vinhedos, as vendas estavam indo bem, as críticas em revistas internacionais alavancaram as encomendas dos Estados Unidos e era hora de crescer.

Jaume disse que neste caso seus vinhos teriam características próprias de Terroir, seriam elaborados com outras uvas e seriam diferentes desde a origem, pediu então ajuda de Mariano na hora de decidir o corte.

Mariano aceitou na mesma hora, mas corrigiu dizendo: Jamais fiz o corte dos vinhos, não teria a competência de Maribel.

-Maribel! Então é ela?

-Sim, tem um nariz formidável, um amor pelos vinhos que chega a emocionar. Reclama por não ter outros vinhedos para trabalhar e adoraria trabalhar com você.

Maribel deu pulos de alegria, Jaume teve seus vinhos selecionados em uma lista dos 100 melhores da Espanha e Mariano passou a dar consultoria a outras vinícolas, com ajuda de Maribel é claro!

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