Se chover a culpa é do António - Conto
Isso mesmo, António em Portugal tem acento agudo, mas isso não vem ao caso. Estou falando de um lisboeta de 56 anos que vive pelos lados do Alentejo fazendo o papel de meteorologista sem nunca ter assistido uma aula sequer da matéria. O caso é que jornais, revistas, internet e TV, não possuem o prestigio de António. Este rapaz alto, magro e calvo, poderia muito bem fazer o papel do Santo António de Lisboa no cinema, parece imagem de igreja!
Tudo isso acontece por causa do pavor que a chuva fora de hora provoca nos produtores de vinho do mundo inteiro. Era uma quarta feira e os telejornais previam chuva para todo o país. O telemóvel (celular) de António não parava de tocar. A resposta era sempre a mesma: "aqui no Alentejo não chove!"
As uvas ainda não estavam na maturidade ideal e a resposta de António seria um alívio para os produtores não fosse um tal Doutor Zé Mendes. O homem letrado e com cara de poucos amigos alardeava pela praça que a chuva viria e acreditar em António era uma ignorância.
Dois ou três produtores mais jovens acreditaram em Zé Mendes e iniciaram a colheita imediatamente.
Mal o sol se pôs e um vento forte começou a bater vindo da Espanha.
A colheita em alguns lugares prosseguia noite adentro.
Por volta das 6 da manhã nenhuma nuvem no céu. A lua estava alaranjada pelo sol que chegaria em instantes.
António saiu de sua casa para comprar pão e deu de cara com Dr. Zé Mendes. Com ar franciscano António disse apenas bom dia. Zé Mendes tinha nas mãos mapas meteorológicos e anotações. Olhou para António e disse: "Os ventos mudaram de direção e acabaram levando a chuva para Lisboa. Como é possível uma mudança tão repentina?"
António olhou para Zé Mendes e disse em voz baixa: Sabe amigo, há mais de 30 anos enquanto os outros estudavam os mapas eu estava olhando para o céu".
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