sábado, 11 de abril de 2015

24 horas valeram uma eternidade... - Conto







Era festa na cidade de Serralunga d'Alba.

Não sei bem se aniversário da cidade, dia de algum santo ou festa da colheita talvez.

Essa parte saiu completamente da minha memória.

Sei que era festa e que toda a cidade estava no mesmo lugar (o que não quer dizer grande coisa, numa cidade tão pequena).

Os olhos de Lorena eram azuis.

Não eram claros, nem escuros.

Um tipo de azul que lembra aquela pedra Lápiz-Lazúli que tem no Chile.









Hans era um alemão que sempre aparecia na cidade para comprar vinhos e engarrafar como se fosse de sua propriedade (que na verdade não existia) para vender na Alemanha.

Ele se aproximou de Lorena.

Dançaram a noite toda.

Hans era respeitador demais e o beijo acabou ficando pra depois.

Mesmo assim ficaram de mãos dadas, fizeram juras de amor e um ar de compromisso.

Quando Roberto apareceu para se despedir de Hans os olhares se cruzaram.

Nem que fizesse muito esforço, Roberto não esqueceria aquele olhar azul cor da tal pedra chilena.

Ele era o produtor e dono das uvas e do vinho que Hans espalhava para toda a Alemanha como sendo dele.

Apesar de ser o dono da propriedade, Roberto morava em Milão, deixava tudo nas mãos de funcionários capazes e eficientes, mas aparecia de tempo em tempo.

-Como não conheci Lorena antes???

Era mesmo difícil que se cruzassem.

Lorena passava boa parte do tempo na casa dos tios, em Torino, onde estudava agronomia.

-Como nunca tinha visto esse tal Roberto???

A cabeça dos dois girava como um cachorro atrás do rabo, dando voltas sem sair do lugar.

Roberto não perguntaria para Hans sobre Lorena, mas Lorena perguntou para a cidade toda (não é grande coisa) quem era o tal Roberto.

Com endereço, telefone, e-mail e celular nas mãos, Lorena não pensou duas vezes.

-Roberto! Sono Lorena...

A barriga de roberto parecia queimar e congelar ao mesmo tempo enquanto a respiração falhava a cada resposta.

A conversa foi breve, mas o resultado fantástico.

Os dois se encontrariam em Torino, no dia seguinte.

A noite claro que não saiu do lugar.

Cada volta no ponteiro de segundos demorava uma eternidade.

As 13 horas em ponto, lá estava Roberto na porta da universidade.

Os olhos se cruzaram de novo e aquela cor de lápiz-lazúli enfeitiçou pra sempre os pensamentos de Roberto.

O almoço foi longo, como deveria ser.

O café curto e expresso como deve ser.

Saíram pela cidade e conversavam como se o tempo não existisse.

Agora o ponteiro de segundos corria como um leopardo.

As histórias se encaixavam uma na outra.

Coincidências e desencontros.

O sol já tinha desaparecido e resolveram dormir em Milão.

No caminho a conversa ganhou firmeza, as palavras saíam mais facilmente e a viagem passou como se fosse num concorde.

Insisto com o tempo, porque Lorena entrou naquele apartamento e foi logo tirando os sapatos.

Em 24 horas se reencontraram, se amaram e ficaram juntos por longos dias.

Hans ficou pra trás.

Lorena terminou os estudos e voltou para Serralunga.

Os vinhos não eram mais vendidos a granel.

Roberto e a agronoma e enóloga Lorena fizeram um Barolo elegante e complexo.

Com a mesma simplicidade do primeiro encontro, os olhares seguiram se cruzando.

A cor da pedra chilena ficou pra sempre na retina de Roberto.


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