sexta-feira, 3 de abril de 2015

Guillaume tinha o vinho da juventude, Gerard tinha a Juventude do vinho.





Gerard não pensava em outra coisa.

Tinha que encontrar o tal Guillaume e provar o vinho da juventude.

Gerard tinha 30 e tantos.

Vivia bem, tinha disposição, muita saúde, muita vontade de viver e muita juventude nos miolos.

Mas Amélie não queria saber disso, valia mesmo o que estava no bilhete de identidade.

Ela tinha 19, mas ela imaginava que para seus pais isso seria um escândalo nacional, internacional talvez...

Os encontros eram escondidos e davam certo.

Se divertiam, conversavam, se amavam...

Gerard soube por Claude, um vizinho que sabia de tudo que acontecia na região, que na cidade ao lado existia um vinho da juventude.

Bastava tomar, e 10 anos iam embora.

Com 10 anos a menos os pais de Amélie não diriam nada, não saberiam de nada e nem Amélie se sentiria a enfermeira do asilo.

A fama do vinho da juventude já tinha se espalhado pelo Languedoc, mas Gerard não tinha visto nem o rótulo.

Sabia que vinha do Minervois, mas nada de encontrar o tal Guillaume.

Num final de semana de outono, Amélie e Gerard se encontraram e o assunto estava em pauta.

Tudo ia bem, mas esses vinte e poucos anos faziam uma diferença quase criminosa na cabeça de  Amélie.

Nem bem amanheceu o dia e Gerard pegou seu Peugeot e correu para o Minervois.

Perguntou na entrada da cidade, e... Bingo!

Sabiam logo onde estava o tal vinho.

Havia inclusive venda no mercado negro.

Diziam que tal safra era melhor, etc...

A mente de Gerard já via crianças no caminho e imaginava que eram ex adultos convertidos.

Duas curvas para a direita e uma para a esquerda e Gerard deu de cara com a vinícola de Guillaume.

A vinícola era simples, mas Guillaume tinha ares de super star.

Saiu com um turbante e uma capa que davam em primeiro lugar impressão de salafrário e em segundo lugar a certeza.

Era desses caras que pintam cabelo, colocam botox... Nada contra.

O vinho era obviamente ruim.

O resultado obviamente psicológico acabou invadindo a mente de Gerard.

Saiu se sentindo o Tom Cruise, mas na verdade não passava dele mesmo ou do homem que lia jornal no banco da praça e que inspirou uma comparação de Amélie na semana anterior.

Gerard sabia viver e por isso dizia que havia vivido 100 anos em menos de 40.

Tinha rugas, histórias, conhecimento e tinha também juventude.

Amélie apareceu e não viu nenhuma diferença.

Realmente não seria possível continuar e prevaleceu o medo da família.

Gerard ficou sem palavras.

Tomou as outras garrafas da caixa do vinho que havia comprado, mas nem pensava mais em voltar no tempo.

O tempo passou e as idades de certa forma se aproximaram.

Gerard nunca mais tomou do vinho de Guillaume, mas continuava jovem.

Amélie se casou com um rapaz da sua idade, nem por isso agradou seus pais.

Os pais de Amélie nunca souberam da história. Talvez (e provavelmente) não interfeririam.

Guillaume acabou preso por charlatanismo.

O Languedoc continuou sendo o lugar mais interessante do mundo.

Como disse o poeta e diplomata Vinicius de Morais:"a vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida".




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