terça-feira, 10 de dezembro de 2013

O Último Vinho de Monsieur Arnoux - Conto
















O corpo magro e curvado, cabelos brancos de algodão e mãos
grossas de trabalho, faziam de Monsieur Arnoux o vigneron mais admirado e
respeitado daquele pedaço do Languedoc.

Naquela manhã de primavera ele amarrou os galhos das vinhas como fazia há 50
anos, com habilidade, mas agora com mais calma, carinho e um ar de despedida.

No verão as uvas vieram fortes, o clima ajudou como nunca e a colheita foi
cercada de amigos que vinham todos os anos e abraçavam Monsieur Arnoux com uma
força sem igual, lágrimas nos olhos e tristeza. Isso mesmo, ninguém escondia a
tristeza.

Monsieur Arnoux nasceu naquele pedaço de terra, viveu ali, criou os filhos com
aquelas uvas e agora estava preparando as malas para morar em Paris.

O filho mais velho, Regis, não venderia as terras, mas deixaria em condições de
abandono. Dono de dois pequenos supermercados na capital, Regis vivia uma vida
confortável, queria ver o pai sossegado.

Os vinhos foram elaborados, deixados nas barricas e tudo foi arrendado pelo
amigo Jean, outro velho vigneron da região.

No primeiro inverno a depressão atacou forte Monsieur Arnoux. Chorava o dia
inteiro.

Quando conversava falava dos vinhedos, das colheitas e dos amigos da terra.

Depois de uma pequena melhora, Monsieur Arnoux aceitava passar o dia com o
filho, conversando com clientes e contando de suas garrafas.

Os amigos apareciam algumas vezes e traziam sempre vinho ao velho Arnoux.

Um dia quem apareceu foi Jean, com uma caixa de 12 garrafas e um envelope.

A caixa ficou pra depois, Arnoux abriu o envelope e pegou um bolo de cartas
escritas por vizinhos. Se emocionou muito. Chorou demais!

Quando abriu a caixa e olhou para uma das garrafas, viu o desenho de um velho
magro, bem estilizado e o nome: "Le dernier vin du Monsieur Arnoux"
(o ultimo vinho de Monsieur Arnoux).

A choradeira foi geral, Jean, Regis e Arnoux se abraçaram, sofreram juntos e
calaram quando Arnoux falou: "O grande problema de envelhecer é que não
envelhecemos. Minha cabeça é exatamente a mesma de quando tinha 20 anos. Meus
desejos, minhas alegrias e pensamentos. O corpo é que não acompanha mais!".

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