sábado, 26 de abril de 2014

Mariela e o Forrest Gump do Piemonte

















5 e meia da manhã nesta época do ano é noite, mas isso não muda a rotina de
Sílvio. 



É hora de pular da cama, comer um pedaço de pão com queijo e meia taça
de vinho. 



Pronto! Sílvio já está a bordo de sua bicicleta percorrendo os 40 km
até a vinícola.



Nas costas a mochila com roupa limpa, escova de dentes (não gostava de escovar
ao acordar para não estragar o gosto do vinho) e um saca rolhas de estimação
que estava sempre com ele.



Ainda com a bicicleta em movimento Sílvio pulava e começava a correr pelos
vinhedos.


Corria por 30 minutos e caía na piscina. Muitas vezes quebrava uma camada de
gelo que se formava na superfície.


Quando acabava a "obrigação" tomava um banho, se vestia e esperava os
funcionários para dar as ordens do dia.


Mariela só de olhar para a vitalidade de Sílvio ficava cansada.

E ela é linda!


Pele morena do sol refletido nas montanhas nevadas ao norte do piemonte, olhos
azuis escuros e cabelos negros. 


O corpo é tudo que se pode imaginar em 1 metro
e setenta de altura. 


Apesar da preguiça ao ver Silvio, Mariela esquiava todos
os finais de semana, mas dizia que isso não era esforço era prazer.
Diferente de Silvio, que chamava a sua ginástica diária de obrigação.



Os dois se olhavam, conversavam assuntos de trabalho e principalmente,
discutiam o dia inteiro.


Sílvio não mandava Mariela embora por um simples motivo: era louco por ela.

Os vinhos das barricas estavam lá, prontos para o corte (mistura entre os vinhos
de uvas diferentes para criação do produto final), Mariela participava como
estagiária e a palavra final era de Sílvio.


Aquele Langhe teria Barbera e Nebbiolo, mas precisava decidir qual percentagem
para cada uva. 


Aí começou a discussão. Primeiro leve, depois frenética.

Sílvio provava o vinho como poucos, conhecia os segredos de cada variedade e
era capaz de saber o tempo exato que cada vinho atingiria seu melhor momento.


Mariela era 10 anos mais nova, ousada, atrevida e gostava de dar ordens.

O democrático Sílvio aceitou um desafio de levar uma garrafa com cada corte
para uma decisão em conjunto com os outros funcionários.


7 funcionários. 

Vitória
de Sílvio por 7x0!

Mariela deu o braço a torcer, se mostrou humilde e os dois saíram para jantar
pela primeira vez em um ano de discussões.

O jantar foi surpreendente!

Sílvio conheceu uma jovem cheia de mistérios, insegurança e desconfiança.

Depois de alguma taças de vinho, Mariela contou que os pais morreram em um
acidente, deixaram uma indústria de meias femininas na periferia de Mantova e
seu irmão tocava o negócio com mão de ferro.


Ela recebia um bom dinheiro todos os meses, mas não tinha espaço na empresa,
seu irmão não deixava.

Se apaixonou por um operário da fábrica que só queria se divertir e mudou de
cidade para fugir de tudo e de todos.

Mais algumas taças de vinho e Mariela se atirava pra cima de Sílvio. Caricias,
beijos e provocações ditas ao pé do ouvido.

Sílvio lembrou que sóbria Mariela era séria, brava e até um pouco moralista.

Pediu a conta e quando Mariela se levantou percebeu que o vinho havia feito um
estrago maior do que imaginava.

Já passava de uma hora quando Sílvio subiu as escadas com Mariela nos braços,
colocou a garota em baixo do chuveiro, deu um copo cheio de café pra ela e foi
embora.

No dia seguinte fez a obrigação com a cabeça cheia. Pensava o tempo todo em
Mariela.

Naquele dia ela não foi trabalhar, nem no outro e nem naquela semana.

Os funcionários perguntavam, ligavam para o celular da moça e nada...

Depois de 10 dias Mariela ligou pra Sílvio, agradeceu o café, o banho e o
respeito. Elogiou Sílvio como nunca havia elogiado ninguém e disse que não
tinha coragem de olhar pra ele.

Depois de muita insistência Mariela voltou ao trabalho. Depois de 2 meses
voltaram a sair. Voltaram a tomar vinhos.

Voltaram pra casa sóbrios. E nunca mais se largaram


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