Paciência de viticultor... Gonzalo esperou quase 20 anos... - Conto
Já passava das 11 e meia da noite quando o telefone tocou.
Normalmente o telefone não tocava naquela hora, mas Gonzalo atendeu tranquilo, nem imaginava do que se tratava.
Pela cara de espanto e emoção já se poderia esperar que não era nenhum importador perdido no fuso horário.
Os vinhos de Gozalo saíam de Ribera del Duero para o mundo.
26 países recebiam aquele néctar que ele teimava em dizer que era apenas a voz da terra.
A voz da terra de Ribera del Duero já tinha 6 gerações de sucesso, uma terra que nunca sentiu o cheiro de nenhum pesticida, nenhum herbicida ou coisa parecida. Isso mesmo, nem coisa parecida tinha...
A ligação seguiu com Gonzalo falando quase nada e os olhos enchendo cada vez mais antes que as lágrimas escorressem sem parar.
Maité seguia cada suspiro de Gonzalo e também sem palavras, tinha um olhar de quem torcia por algo, de quem sabia de algo...
O dia tinha sido bem duro, com uma colheita longa, com menos gente no trabalho, mas muita vontade de seguir fazendo sempre o melhor.
Todos falam em crise, mas como anda difícil encontrar gente para o trabalho da colheita ultimamente...
- Te quiero, te quiero, te quiero...
Pronto, Gozalo desligou o telefone e Maité correu para um longo abraço.
Nenhuma palavra, nenhuma pergunta.
Gonzalo estava calado como raramente ficava, parecia em estado de choque.
Maitê olhava com um olhar tão lindo, que aqueles olhos castanhos pareciam acariciar quem estivesse por perto.
Uma taça de Jerez e um silêncio ensurdecedor tomaram conta da sala.
Depois de quase 3 horas, Gonzalo falou.
Ela vem amanhã.
Depois de quase 20 anos vou rever Maribel...
Maitê entrou num choro profundo.
Sabia o quanto Gonzalo esperava por um telefonema da filha.
Gonzalo baixou a cabeça e falava com dificuldade segurando o choro para que a voz saísse:
Enologia Maité...
Ela estudou enologia.
Nunca tivemos um enólogo formado por aqui.
O sangue falou mais alto.
Maribel vem pra ficar...
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