segunda-feira, 28 de abril de 2014

O Lote 43 2002 passou por Bordeaux. Coloquei o vinho às cegas para três bordaleses. Vitória contra o preconceito.







Eu gosto da degustação às cegas.

Ela joga fora o preconceito, o investimento em rótulos, o marketing, a reputação das regiões...

É a chance de competir de igual pra igual.

Na semana passada almocei com um grupo de franceses e italianos.

Levei para o restaurante Ráscal uma garrafa de Lote 43, mas no início não pensava em servir às cegas.

Pedimos um espumante Cave Geisse e entre elogios bem marcados de um dos produtores de Bordeaux e de um produtor italiano, ouvi a seguinte frase: "...Os espumantes brasileiros são excelentes, mas os tintos não são bons..."

Chamei o Alessandro, sommelier do Ráscal Itaim, e pedi que o serviço do vinho fosse às cegas.

Eu não sabia como estaria o vinho. 12 anos não é para qualquer vinho.

O vinho foi servido e a surpresa era só minha.

Para eles o Brasil nem passou pela cabeça.

-Bordeaux...

-Tenho certeza que é um Bordeaux...

-Bordeaux da margem direita...

O italiano que como de costume só conhece vinhos italianos não tinha referência...

Talvez um supertoscano...

Mas disse que italiano não era.

Apenas arregalava os olhos e aproveitava o vinho.

Eu não tive muita paciência para anunciar a minha vitória.

Sempre é bom vencer o preconceito.

Abri a garrafa e disse: Brasil...

O espanto foi geral.

Era um tal de fotografar o rótulo e de encontrar desculpas que durou até o final da garrafa.

O vinho mal tinha reflexo de envelhecimento.

As frutas vermelhas e negras estavam lá.

A acidez...Os taninos macios e elegantes...

As notas de couro, café, chocolate também.

O final era longo, derrubando mais uma teoria que traziam de que os vinhos são curtos.

O corte é o mesmo de Bordeaux: Cabernet Sauvignon e Merlot.

Passou cerca de um ano em barricas francesas e americanas.

Era um vinho que merecia 92 pontos fácil...

Pena que não está mais no mercado.


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