O Lote 43 2002 passou por Bordeaux. Coloquei o vinho às cegas para três bordaleses. Vitória contra o preconceito.
Eu gosto da degustação às cegas.
Ela joga fora o preconceito, o investimento em rótulos, o marketing, a reputação das regiões...
É a chance de competir de igual pra igual.
Na semana passada almocei com um grupo de franceses e italianos.
Levei para o restaurante Ráscal uma garrafa de Lote 43, mas no início não pensava em servir às cegas.
Pedimos um espumante Cave Geisse e entre elogios bem marcados de um dos produtores de Bordeaux e de um produtor italiano, ouvi a seguinte frase: "...Os espumantes brasileiros são excelentes, mas os tintos não são bons..."
Chamei o Alessandro, sommelier do Ráscal Itaim, e pedi que o serviço do vinho fosse às cegas.
Eu não sabia como estaria o vinho. 12 anos não é para qualquer vinho.
O vinho foi servido e a surpresa era só minha.
Para eles o Brasil nem passou pela cabeça.
-Bordeaux...
-Tenho certeza que é um Bordeaux...
-Bordeaux da margem direita...
O italiano que como de costume só conhece vinhos italianos não tinha referência...
Talvez um supertoscano...
Mas disse que italiano não era.
Apenas arregalava os olhos e aproveitava o vinho.
Eu não tive muita paciência para anunciar a minha vitória.
Sempre é bom vencer o preconceito.
Abri a garrafa e disse: Brasil...
O espanto foi geral.
Era um tal de fotografar o rótulo e de encontrar desculpas que durou até o final da garrafa.
O vinho mal tinha reflexo de envelhecimento.
As frutas vermelhas e negras estavam lá.
A acidez...Os taninos macios e elegantes...
As notas de couro, café, chocolate também.
O final era longo, derrubando mais uma teoria que traziam de que os vinhos são curtos.
O corte é o mesmo de Bordeaux: Cabernet Sauvignon e Merlot.
Passou cerca de um ano em barricas francesas e americanas.
Era um vinho que merecia 92 pontos fácil...
Pena que não está mais no mercado.
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