Calma, eu explico.
Quando esse vinho veio parar em minhas mãos o rótulo do 2005 ainda não estava pronto. O vinhos estavam ainda descansando em garrafa, mas ja próximos do engarrafamento.
Então veio assim, com essa etiqueta de papelaria que durou mais de um ano na adega sem sofrer com a umidade.
Quando provei o 2004 gostei muito e tinha a mesma espectativa para o 2005.
Acertei!
Um vinho que mostra exatamente o que um corte pode fazer.
Na França, há mais de 10 anos, um amigo disse pra mim: -Os bons vinhos são feitos no corte. Os varietais são pura teimosia...
Teimosia também na minha opinião é procurarmos uma uva emblemática quando deveriamos vender o terroir.
A uva emblemática que falo é a Merlot, que realmente se transforma em vinhos maravilhosos na Serra Gaúcha, mas talvez eu esteja diante de um exemplar que pode perfeitamente ser uma bandeira do terroir.
Dessa garrafa com rótulo de papelaria saiu um vinho de cor rubi, com muita concentração, daqueles que esconde o dedo.
No nariz o vinho tem uma fruta incrível. Cassis, amora, chocolate, tabaco, baunilha, caramelo.
Se trata de um corte. Claro, um corte!
Meu amigo francês certamente não acreditaria que este vinho era brasileiro.
Cabernet Sauvignon (40%), Cabernet Franc (30%), Merlot (15%) e Tannat (15%).
Muito bom na boca!
Elegante, macio (aveludado), encorpado e com uma acidez maravilhosa de dar inveja aos nossos vizinhos argentinos e chilenos, que na maioria das vezes conseguem a acidez adicionando ácido tartárico.
Uma acidez natural que o velho mundo conhece bem e o Brasil também.
O vinho passou 9 meses em barricas de carvalho frances e americano.
Esse carvalho americano ainda contribuiu com um gosto de coco que veio depois de um tempo de taça.
A vinícola fica em Pinto Bandeira, onde os espumantes são impecáveis, será por isso que essa acidez me convida para mais uma taça???
Talvez aquele complexo de vira latas que o Nelson Rodrigues falou se referindo a nossa seleção brasileira antes que o Brasil se tornasse uma potência no futebol seja o motivo de buscarmos uma uva emblemática.
Assim imitamos a Argentina, a Austrália, África do Sul...
Esse vinho me da a impressão de que não precisamos de uva emblemática, não precisamos imitar o novo mundo e muito menos insistir em varietais.
Melhor fazer como o mundo todo faz e elabora vinhos com os olhos virados para a França.
Claro que a França é referência mundial!
Esse 2005 esta vivo, talvez no auge, talvez melhore em um ano ou dois.
Tem 6 anos!
A Merlot no Brasil é excelente, claro, mas nesse vinho as Cabernet's Franc e Sauvignon foram fundamentais.
Custa cerca de 80 reais www.valmarino.com.br
Em tempo, o rótulo do vinho é esse abaixo:
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