Miguel nasceu
entre os vinhedos.
Aos seis anos já corria de um lado pro outro, se divertindo
na colheita e tentando ajudar a mãe na mesa de triagem.
O pai deixou
pra trás os vinhedos, deixou pra trás a família e foi viver em Madrid com uma
cigana que depois de ler sua mão entrou também definitivamente em sua mente.
Menos mal que
Dolores, a mãe de Miguel, era forte como uma pedra.
Também era
dela a tradição vinícola.
Sabia tudo do
trabalho nos vinhedos, sabia tudo e mais um pouco sobre a vinificação, mas
vender...
Não tinha
nenhuma vocação para os negócios.
Miguel era
uma criança quando sua mãe precisou vender tudo.
Os dois
fizeram a mudança e ele jamais esqueceu os olhos de Dolores vendo os vinhedos
ficarem pequenos durante a partida para Barcelona.
Miguel
cresceu lentamente, como acontece em anos de sofrimento.
Aos 15 começou
a trabalhar numa vinícola no Priorato.
O trabalho
era impecável e os conselhos de Dolores indispensáveis.
Conheceu
Maribel nessa época.
Parecia
impossível, parecia que se multiplicou em dois.
Dava a mesma
dedicação aos vinhedos e mais dedicação ainda para Maribel.
O sucesso no
trabalho, ajudou Miguel a comprar seus próprios vinhedos, fazer seu próprio
vinho...
Aos 21 anos
tinha mais hectares do que tinha o seu primeiro patrão.
Maribel
recebia a mesma dedicação, mas parecia cada dia mais distante de Miguel.
Sabe-se lá o
motivo...
Era hora de
resgatar o passado.
Num almoço em
família, num domingo ensolarado, Miguel olhou para Dolores e disse: Prepara Mamá.
Nos pondremos todo lo que era nuestro...
Dolores era forte, mas forte mesmo, mas nessa hora teve que chorar.
Os dois se abraçaram diante do olhar neutro de Maribel.
Não demorou uma semana e Miguel fechou o negócio.
Na viagem de volta, os olhos verdes de Maribel estavam cheios de lágrimas.
Miguel esperava que ela fosse junto, mas também esperava com tristeza
por esse desfecho.
No carro, em direção a Ribera del Duero, viu Maribel ficar pequena, mas viu os olhos de Dolores
brilharem como nunca tinha visto...
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