A música ainda toca - Conto
Pra saber a história de John é preciso trilha sonora.
As instruções é que escute essa música enquanto eu conto:
John conheceu Marilia nos vinhedos de Napa Valley, antes mesmo de fazer as contas de quantas garrafas teria naquela safra ensolarada de 1981.
Marilia era uma brasileira interessadíssima pelos caldos californianos.
John interessadíssimo em viver algo novo, algo intenso, algo que fosse longo como os vinhos que fazia com a elegante Merlot.
Ela era doce.
Alta, magra, linda como deve ser uma personagem de romance barato.
John era simplesmente John.
Tudo que fazia era bem feito e os detalhes faziam uma diferença muitas vezes gigantesca em qualquer coisa que se dispunha a colocar as mãos.
Ela fez um passeio guiado. Visitou vinhedos, comeu churrasco, bebeu os melhores vinhos e aparentemente se apaixonou.
John vivia um sonho e não fazia nenhuma questão de acordar, mas a realidade implacável muitas vezes berra e não há sonho que resista.
Foram meses de paixão.
Ela vivia em San Francisco e pegava o carro todos os dias para passar algumas horas com John, alguns dias, semanas talvez.
John se sentia o homem mais feliz do mundo.
Mas Marilia sempre tinha algo que a incomodava.
Nunca estava completa.
Era agradável, doce, não perdia a simpatia, mas a alegria vivia perturbada por algo incompreensivel.
Alguns dias acordava feliz e com uma disposição de fazer inveja a maratonistas.
Outros dias não tinha vontade de sair da cama.
Nenhum motivo aparente.
John se esforçava para ajudar, fazia o que podia, mas era inútil.
Esperava passar e ganhava de presente uma Marilia eufórica no dia seguinte.
Com o tempo os dias de euforia eram vividos com apreensão pelos dias que viriam a seguir.
John se esforçava para entender, se informava e acabou chamando Marilia para uma conversa.
Foi começar a falar no assunto para que tudo virasse um inferno.
Marilia não queria falar sobre isso e não falava.
Era assunto proibido e ponto.
Depois de alguns dias de luz, Marilia se trancou no quarto com uma caixa de vinho e ficou incomunicável por quase uma semana.
John tentava de tudo, mas era como se falasse com um poste.
Mais uma vez o pesadelo foi dar uma volta e John aproveitou os dias de euforia para conversar mais uma vez.
Dessa vez não ouviu os apelos de não tocar no assunto e insistiu para que Marilia fosse procurar um tratamento.
Ela quase conseguiu fingir que faria isso, mas preferiu passar uma boa noite e ir para o trabalho no dia seguinte.
John voltou dos vinhedos e nada de Marilia.
Telefonou e nenhum sinal.
mandou e-mails, mensagens por todos os canais.
Quem sabe no facebook? LinkedIn?
Nada.
Isso nem existia...
Esperou.
1, 2, 5, 10 dias.
1 mes.
1 ano.
Continuou tentando.
Ela mudou de trabalho.
Mudou de casa.
Fechou os canais.
John ainda espera.
A música ainda toca...
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