Quando o sol ficava vermelho naquele ponto do norte da África, Zakaria pegava uma garrafa de vinho e seguia para casa. Luna era uma espanhola de origem hebraica que largou tudo na Andaluzia pelo amor por Zakaria.
Os vinhos produzidos por ele eram exportados, mas também vendidos em parte para o mercado interno.
Sim, o Marrocos é um país islâmico, mas assegura a liberdade religiosa, por isso, bebe quem quer.
E querem!
Zakaria e Luna se conheceram em Sevilla e quando disse a ele que produzia vinhos de qualidade em Marrocos foi uma grata surpresa. Luna cursou agronomia com mestrado em enologia e fazia parte do grupo de desempregados da España.
Os dois namoraram um mes durante as ferias, dois meses entre e-mails, telefonemas, barco nos finais de semana e por fim, casamento!
O casamento entre uma judia e um muçulmano exigiu uma certa tolerância improvável entre as familias, mas a felicidade dos dois falou mais alto.
Luna colocou em prática seus estudos e os vinhos de Zakaria melhoram ano a ano. Ele cuida da terra. Aprendeu com o pai todo o serviço nas vinhas. Aprendeu mais ainda com Luna que implantou um controle de qualidade que jogou a produção para a metade.
-Vai valer a pena, dizia ela.
Naquela noite Luna havia preparado um cordeiro e aguardava visita de importadores franceses.
O cordeiro com o verdadeiro cuzcuz marroquino arrancavam suspiros dos franceses, mas a surpresa maior estava nos vinhos. Luna trazia em um decânter várias amostras de vinho. Como costumava fazer, trazia um vinho europeu e um vinho produzido por eles alternadamente. Os especialistas provavam e anotavam tudo. Toparam o desafio achando pouco provável uma surpresa norte-africana.
Serviço terminado Luna trazia as garrafas e revelava os vinhos um a um.
O Syrah de Zakaria foi disparado o melhor. Um deles apostou tudo com sendo um Syrah do Rhône. Não haviam vinhos do Rhône. Luna abriu 3 garrafas de Ribera del Duero para intercalar com os vinhos. Dois vinhos do Duero ficaram em segundo e terceiro na degustação e o outro ficou em quinto.
Foram seis vinhos provados e os 3 vinhos de Zakaria já tinham passagem comprada para a França.
Os visitantes estavam encantados!
Zakaria explicou que 500 anos antes de Cristo, fenícios e gregos desenvolveram a produção de vinhos, depois vieram os romanos. Contou também que quando a praga atingiu os vinhedos da europa, em 1875, Marrocos foi um dos fornecedores das mesas francesas e depois de 1905, chegaram os europeus interessados no Terroir do norte da África. Trouxeram Grenache, Carignan, Cinsault e Alicante. Mais tarde vieram com Cabernet Sauvignon, Merlot, Sauvignon Blanc e Syrah. Nos anos 90: Tannât, Marsanne, Roussane, Malbec, Viognier, Arinarnoa, Chardonnay, Chenin e Tempranillo.
A aula marroquina impressionou os compradores de bochechas vermelhas.
Quando saíram Luna disse:-Não conheciam nada sobe os vinhos, por que vieram?
-Disseram que o concorrente compra coisas diferentes e vendia mais e não querem ficar pra traz!
-Não entendi esse negócio de coisas diferentes, afinal não confundiram nosso Syrah com um Rhône!
-Diferente pra mim quer dizer melhor, novo, interessante. Alguns nasceram com nariz, outros com focinho. O focinho é poderoso mas não tem inteligência, o nariz não é tão poderoso assim, mas sabe bem onde cheirar...
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