quinta-feira, 2 de maio de 2013

A vida de Bertrand e Florence passou rápido. Em 71 linhas...







A previsão era de chuva e trovoadas em Bordeaux.

Uma semana de previsão desfavorável e Bertrand segurando a onda.

Esperando a maturação completa.

Com certeza ele teve sorte, mas ficava o tempo todo olhando para o céu.

Ele, Florence e toda a equipe a postos.

No terceiro dia a chuva passou bem perto e ele segurou firme.

O sol da manhã ajudou na maturação e seria naquele dia.

Florence comandava a equipe, Bertrand só dava a ordem e tudo andava como um relógio.

A previsão continuava desfavorável, por isso, o jeito era colher o mais rápido possível.

A correria foi geral.

Bertrand, Florence e companhia correram como nunca.

Quando os últimos cachos ainda estavam sendo colhidos ela veio.

Forte, com trovões e raios.

Bertrand e Florence entraram na casa, enquanto os outros trabalhadores esperavam uma trégua no galpão.

A roupa molhada de Florence merecia uma citação, mas o narrador não vai dizer nada.

Bertrand e Florence se amaram pela primeira vez.

Os anos que se seguiram foram das safras mais lindas e exuberantes.

Era bonito ver Bertrand e Florence.

Sonhos realizados a cada minuto, a cada segundo.

A chuva veio de novo, mas dessa vez na vida dos dois.

A rotina implacável, o ciúme de Florence, o ciúme de Bertrand, tudo que antes não incomodava, agora atrapalhava.

Melhor não falar em tempo.

Passaram alguns anos, sem precisão.

Florence e Bertrand se separaram.

Um jogo de ciúmes e desconfiança levou a paixão, levou a amizade e mandou o amor tirar férias.

Bertrand queria um final feliz.

Tentou... tentou...

Mas, Florence estava decidida.

O tempo é implacável (é frase feita mas é verdade).

Bertrand sempre guardou na lembrança o sorriso de Florence.

Florence passava o tempo lembrando de como era amada.

O sonho com o passado é muito mais dolorido.

Corrói e não dá nenhuma esperança.

As rugas já marcavam os dois rostos, os cabelos que faltavam em Bertrand eram brancos em Florence.

A solidão que incomodava um, torturava o outro.

Nada valeu o ciúmes, as brigas, nada...

Bertrand tentou encontrar uma companheira por muito tempo (melhor não falar em anos), Florence teve vários casos, vários flertes, promessas...

O andar forte e decidido de Bertrand deu lugar a passos lentos, curtos.

As dores nas costas deixavam Florence por dias sem sair de casa.

Num dia de muita chuva, Bertrand andava pela estrada de terra ao lado dos vinhedos.

Florence apontava com seu carro no final da rua.

Na tentativa de andar mais rápido e fugir da chuva, Bertrand caiu numa ribanceira e foi salvo pelo celular de Florence.

Ambulância, hospital e cadeira de rodas.

Bertrand não tinha filhos, nem irmãos, só tinha primos.

Florence era presença pontual.

Todos os dias, sem falta.

Ajudava Bertrand em tudo, fazia tudo por ele.

Antes do final previsível, que a qualquer um prevê desde os primeiros anos de vida, os dois conversaram longamente.

Falaram dos momentos que viveram, mas só de passagem.

A conversa que durou horas, foi sobre os momentos que deixaram de viver.

Os momentos que tiveram medo de viver...

Florence ainda comandou algumas colheitas. Depois reencontrou Bertrand.

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