Era como se Nassif encontrasse Gabriela. No Loire...
A cor da pele de Marie não era comum naquelas bandas.
Era linda!
Lembrava o romance de Jorge Amado.
Lembrava Gabriela.
Alta, magra, gentil, educada...
No Loire era paparicada por onde andava.
Seus vinhos eram elegantes, complexos e tiravam da Sauvignon Blanc tudo que ela podia dar.
Marcel era curioso, voluntarioso, de uma personalidade marcante.
Conheceu Marie em um concurso.
Os dois vinhos, o dele e o de Marie, terminaram empatados e no desempate houve uma confusão provocada por Marcel, que entrou para a história do Loire.
Mal saíram e já davam risadas da confusão.
Acabaram num bistrô tomando os dois vinhos e não sabiam dizer qual era o melhor.
Foram pra casa de Marcel, beberam mais, conversaram mais e dormiram.
No dia seguinte ela saiu correndo.
Tinha que olhar os vinhedos, correr no enólogo para definir o engarrafamento da safra passada, fazer análises em vinhos que íam para os Estados Unidos e, pra piorar, estava com uma enxaqueca danada.
O dia passou e ela nem lembrou que Marcel existia.
Ele, por outro lado, não parou de pensar nela nem 1 minuto.
Pra piorar, não anotou telefone nem endereço.
No rótulo da garrafa, pegou o endereço e lá foi ele.
Marie ficou surpresa quando viu Marcel.
- A que devo a honra?
- Foi embora, não tinha teu telefone, teu endereço...
Marie não esperava a chegada de Marcel. Não imaginava que ele se desse ao trabalho.
Conversaram, beberam mais vinhos, andaram pelos vinhedos, se beijaram, passaram a noite juntos e trocaram os números dos celulares.
- Fica mais prático do que pegar estrada para me fazer surpresa...
O romance seguiu. Marcel se envolveu mais, Marie se envolveu menos.
Ela tinha medo de perder o rumo, como quando vivia na Martinica e teve que partir deixando o grande amor de sua vida pra trás.
Marcel não tinha medo de nada.
Mas passaria a ter depois que Marie pediu que ele não voltasse mais.
Marcel perdeu o rumo.
Chorava dia e noite.
Parou de trabalhar e os vinhedos estavam nas mãos dos empregados, que olhavam pra ele com cara de pena.
Marie não esperava que fosse sentir saudades de Marcel, mas, embora não admitisse, passava horas olhando para o horizonte, lembrando dos momentos com ele.
Passou 1 ano, de novo o concurso.
Marcel só foi por causa dela.
O resultado com as novas safras foi idêntico ao do ano passado, o desfecho também.
Depois da briga, os dois foram proibidos de voltar ao concurso e foram mais uma vez pra casa de Marcel.
Marie explicou que o motivo era o grande medo de se decepcionar, de não dar certo.
Marcel, com seu jeito prático, não entendia nada do que ela dizia, mas não tinha medo.
Passaram a noite juntos.
Marcel acordou primeiro para não deixar ela partir.
Ela abriu os olhos e deu de cara com Marcel.
A conversa foi longa.
Pontos de vista diferentes.
Um aceitava os riscos o outro não queria nem pensar neles.
Marcel argumentou: - Corremos riscos. Eu e você. Mas estamos aqui, falando um com o outro, ainda sonhando, ainda tentando, ainda se amando...
Faz 5 anos que essa conversa aconteceu.
Os dois não correm mais riscos.
Como Marcel sempre diz:
Já deu certo, mesmo que acabe na semana que vem...
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