domingo, 5 de dezembro de 2010

Juan Manuel tinha fôlego e força




Juan Manuel era um jovem incansável. Jogou no juvenil do Valladolid, era um meio campista de respeito, daqueles que chuta com os dois pés,que joga de cabeça erguida e que coloca o atacante na cara do gol pelo menos 10 vezes por partida.


Quando chegou a hora de partir para o futebol profissional assumiu a vinícola da família, mas continuava batendo uma bolinha.


Mesmo no trabalho com os vinhos era incansável, um preparo físico formidável.


Claro que não precisava colher uvas e nem carregar caixas, mas fazia com vontade.


Quando todos sonhavam com uma cama Juan Manuel saía e aproveitava a noite gastando um pouco mais da sua energia sem fim.


Com o tempo trocou o futebol pelos esquis e as colheitas por um megafone, para chamar os trabalhadores.


Mais alguns anos e o corpo magro e musculoso já mostrava uma barriguinha, e aquela gordurinha característica nas costas, perto do quadril.


Nessa época também trocou os esquis pelo gamão, e as noites duravam menos, no máximo meia noite estava em casa.


Na colheita de 2005, Juan Manuel tinha 50 anos.


A barriga, a preguiça e o megafone estavam a postos, mas onde estavam os trabalhadores?


Dos 15 contratados para a colheita só apareceram 3.


Uma greve bloqueou a estrada e as uvas estavam prontinhas, na mais perfeita maturação.


Juan olhou para os três trabalhadores e disse: Não será a primeira nem última vez, fazemos o trabalho com o que temos.


Os três olharam com um certo desprezo e riso, mas Juan tinha uma carta na manga.


Na verdade tinha um baralho inteiro!


Aquele corpo largado tinha uma história de garra que os outros não conheciam.


A essa altura nem tinham ouvido falar no grande Juanito, maior promessa do meio campo do Valladolid.


Juan foi a luta.


Fazia fileiras inteiras enquanto os outros estavam na metade.


Rapazes jovens!


Aos poucos, os outros trabalhadores foram chegando, mas Juan continuava.


Das 6 da manhã ao meio dia foi o recordista.


Encheu mais caixas de 25 quilos que qualquer outro.


Depois do lanche o time estava completo, mas quem disse que Juan abandona o campo.


Lá foi ele até o último cacho do dia.


Os trabalhadores já estavam esgotados e se despediam quando Juan gritou: Onde vamos hoje?


-Dormir chefe.


Para espanto de todos, Juan tomou banho, se vestiu e saiu caminhando os 7 quilômetros até Valladolid.


A Noite foi longa e o chefe chegou enquanto os trabalhadores acordavam.


Mais uma vez se vestiu e trabalhou numa mistura de velhos tempos e megafone.


No final da colheita enquanto pagava os trabalhadores, um deles perguntou: Como tem tanta disposição? Não se cansa?


-Sim, vivo cansado, não tenho nenhuma disposição, mas conheço os atalhos, isso tudo está na memória, na certeza de poder fazer.


Agradeçam a Deus que tenho 50, pois se tivesse 10 anos menos não precisaria de vocês.


Todos riram.


E claro, acreditaram.

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