quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

O dia em que Gustaf encontrou a desinibida do Grajaú

Quadro de James Macdonald







Gustaf chegou ao hotel numa terça-feira, chuvosa, dia sem graça.

O hotel também não agradava o gosto daquele franco-carioca que se tornou um dos melhores arquitetos da França.

Gustaf era arquiteto super especializado em vinícolas.

Foi responsável pelo que ele chamava: revolução arquitetônica dos vinhedos de Ribera del Duero.

Depois vieram pedidos de trabalho do mundo todo. Nesse dia chuvoso Gustaf se preparava para construir uma vinícola no Loire e o hotel tinha estilo tradicional por fora e moderno por dentro. Tinha um elevador panorâmico, que segundo Gustaf, era a cafonice em forma de meio de transporte.

Mal sabia ele que o elevador seria a sua melhor diversão para os próximos dois dias.

Logo depois do jantar, gustav abriu as paginas finais do livro as cariocas de Sérgio Porto quando percebeu a movimentação pelo saguão enquanto uma morena maravilhosa andava como se levitasse. A saia era minúscula, o sorriso enorme e as pernas...

Ela entrou, abriu a bolsa, deixou uma gorjeta para o manobrista e foi até o elevador.

Até o sério recepcionista do hotel levantou os olhos acompanhando a moça até o elevador.

Gustaf fez o mesmo e percebeu que ele se colocou com sua mini mini mini, ao lado do vidro do meio de transporte mais cafona do Loire.

O recepcionista fingiu torcicolo, o manobrista olhou na cara dura e Gustaf olhou como quem reprova, mas no fundo adorou a cena.

Cena que se repetiu na mesma noite por mais duas vezes.

Até o ponto em que gustav se sentou no wine bar, pediu uma garrafa e não saiu mais dali.

No dia seguinte o plantão continuou e as visões do paraíso também.

No outro dia ele se sentou no wine bar e esperava pela desinibida, mas ela não subiu. Melhor ainda, se sentou na mesa em frente com a mesma desenvoltura.

Gustaf suava!

Bebeu a garrafa quase inteira quando ela pediu uma sugestão de vinho.

Gustaf mais nervoso ainda sugeriu que ela se sentasse com ele e ela aceitou na hora.

Marina era jornalista especializada em vinhos, estava visitando os vinhedos do Loire, tinha acabado de entrevistar o grande Didier Dagueneau e seguia seu tour no dia seguinte na Borgonha. Quando Gustaf falou das bodegas que havia desenhado ela afirmou conhecer 90% do trabalho dele.

O sotaque de Marina deixava gustav intrigado.

-Italiana?

-Não, Brasileira.

-Não brinca, de onde?

-Ah você também?

-Sim nasci e vivi no Brasil até os 18 anos.

-Enfim de onde é?

-Rio de Janeiro

Nem bem a frase terminou e um rapaz alto, forte e com cara de poucos amigos chegou para buscar Marina.

Os dois saíram sob os olhares de inveja do Hall do hotel.

Gustav ainda levantou a voz e perguntou: de que bairro?

-Do Grajaú, é claro...

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