A variedade de rótulos e preços pode confundir quem está
começando a se aprofundar no universo cervejeiro. Há alguns anos, quando tudo o
que havia era cerveja industrial, era fácil, pois as opções eram escassas.
Agora, felizmente, a coisa ficou bem mais complicada e saborosa.
Nos supermercados, será muito difícil obter orientações.
Algumas lojas têm especialistas de plantão na seção de vinhos, mas nunca vi
isso no setor de cervejas. Para isso, será necessário ir a uma loja
especializada ou empório ou, se preferir, comprar pela internet, há vários sites
de venda e até mesmo clubes, onde o associado paga uma taxa mensal fixa e
recebe um lote de garrafas com periodicidade mensal. Nos bares especializados,
os funcionários podem orientar na escolha.
Ler a respeito ajuda bastante, mas o principal mesmo é degustar.
Só assim você poderá, aos poucos, criar seu repertório de rótulos e estilos
favoritos. Mesmo assim, é sempre bom arriscar um pouco, sair da zona de
conforto e procurar expandir seus horizontes.
Nem sempre uma cerveja importada ou cara será garantia de
sucesso na sua degustação. Além do gosto pessoal e das características de cada
uma, a cerveja pode sofrer muito com o transporte e armazenamento inadequado.
Sempre verifique a data de validade da cerveja, caso falte um mês ou menos para
o vencimento, melhor escolher outra, a não ser que esteja com preços
promocionais, daí o risco é menor.
No geral, podemos dizer que as cervejas belgas são mais
encorpadas e aromáticas, com baixo amargor, com exceção das witbier, cervejas
de trigo que geralmente levam raspas de casca de laranja Curaçao e sementes de
coentro, um estilo leve e refrescante. Há ainda aquelas de fermentação
espontânea, dos estilos gueuze e lambic (leia texto publicado neste blog em 20
de junho aqui: http://www.papodevinho.com/2013/06/a-tradicao-belga-das-cervejas-lambic-de.html),
mais ácidas, azedas, com características que rementem aos espumantes. Os belgas
são mestres na adição de ingredientes inusitados no preparo de suas cervejas.
Já as alemãs são produzidas apenas com água, malte, lúpulo e
levedura, seguindo a Lei de Pureza de 1516, até hoje em vigor. As claras são
mais focadas no malte, com amargor pouco pronunciado e lúpulo floral, em
estilos como German Pilsener, Helles, Oktoberfest, Märzen, Kölsch, entre
outros. As escuras são mais tostadas e o amargor é geralmente oriundo desta
característica, tais como Schwarzbier, Dunkel, Bock, Doppelbock. Numa outra
chave, as cervejas de trigo, Weissbier ou Weinzenbier, turvas, com aroma e
sabor de cravo e banana pronunciados. A popular Pilsen da República Checa se
parece com a alemã, mas o lúpulo Saaz, mais aromático, se destaca no conjunto,
além da coloração, dourada.
Os ingleses produzem estilos diversos, alguns bem potentes e
alcoólicos, como Barley Wine (leia o texto de 5 de julho aqui: http://www.papodevinho.com/2013/07/barley-wine-estilo-cervejeiro-para-os.html),
Russian Imperial Stout e algumas India Pale Ale. A maioria, contudo, se encaixa
nas categorias Pale Ale e Bitter, com coloração âmbar a castanha, pouco álcool
e bom equilíbrio entre malte e lúpulo. Nas escuras, encontramos estilos como
Porter e Stout (popularizado em todo o mundo graças à irlandesa Guinness), com
forte tostado.
Os norte-americanos são os iconoclastas do momento,
modificando estilos clássicos e produzindo rótulos com as variedades locais de
lúpulo, bem mais intensas e aromáticas que as europeias. São recomendadas para
quem já tenha experimentado cervejas especiais, pois, num primeiro contato,
podem espantar os desavisados. As cervejarias artesanais brasileiras variam
muito, alguns se mantêm fieis aos estilos tradicionais europeus, outros preferem
a liberdade da escola norte-americana. No geral, estamos progredindo bastante,
em quantidade de rótulos e também na qualidade da bebida.
Este é apenas um apanhado geral, pois o assunto é extenso.
Portanto, em sua próxima visita ao supermercado, bar ou empório, não tenha medo
do desconhecido e prove uma cerveja diferente.
*Alessandro
Pinesso é sommelier de cervejas formado pela Associação Brasileira de
Sommeliers (ABS) e Association de la Sommellerie Internationale e Mestre em
Estilos Cervejeiros pelo Instituto da Cerveja Brasil, associado ao Brewers
Association dos EUA.
E-mail: pinesso@gmail.com
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