Zé largou tudo, Inês também... Os vinhedos cresceram fortes...
Os vinhedos não são como os romances. Quem cuida dos vinhedos sempre imagina que a qualquer momento aquelas uvas vão crescer fracas, apanhar uma praga ou até mesmo desaparecer.
Já os romances começam fortes, sempre se acredita que são eternos, que nunca vão morrer e que cada dia ficarão mais fortes até darem frutos.
José Augusto cuidava daqueles vinhedos como nenhum homem cuida de um relacionamento. Nem ele.
Nem chuva, nem calor em demasia, nem granizo, nem praga... Nada pegava o Zé desprevenido.
Maria Inês talvez...
Os dois se conheceram quando a rapariga deixou a propriedade dos pais no Alentejo para trabalhar no Douro, onde os vinhedos crescem entre pedras e os homens são mais espertos e trabalhadores (palavras dela).
Não foi amor à primeira vista.
Os dois se estranharam bastante até que José Augusto cedesse e convidasse a bela Maria Inês para um jantar.
Inês era morena, tinha o jeito doce, tinha pouca estatura, mas muita disposição.
Andava a passos largos e sempre que podia fazia algum barulho para não passar despercebida.
Os dois começaram um romance daquele que realmente parecem infinitos.
José Augusto só não largou os vinhedos porque eram tudo que ele tinha, mas descuidou.
Parou de jogar os defensivos, parou de olhar planta por planta, só queria namorar.
Inês ainda dava uns pulos no vinhedo para olhar como estavam, mas não eram os olhos do dono.
O romance começou em Janeiro, quando os vinhedos dormiam.
Inês e Zé andavam para todo canto juntos.
Viviam namorando como se fosse o primeiro dia.
Fevereiro, Março, Abril, Maio, Junho...
Em Julho José Augusto foi visto olhando planta por planta.
Inês foi vista andando pelos terraços como quem não sabia o que fazer da vida.
Em Agosto Zé já andava pelos vinhedos quase como antes.
Inês ficava mais tempo no celular e parecia em outro mundo.
No meio de Agosto, Inês desapareceu.
Pegou o comboio e voltou pro Alentejo.
Zé Augusto foi pego quase de surpresa.
Quase porque as coisas já não eram como antes.
Os vinhedos neste ano não receberam defensivos, não receberam os cuidados da poda, nem mesmo dos olhos do dono.
As uvas estavam grandes, brilhantes, doces como mel.
A colheita correu como sempre, mas com uvas melhores.
Para Zé sobrou apenas uma reflexão: não precisamos cuidar do que é forte... não adianta cuidar do que é fraco...
perfeito
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