Dieter, Inga, o Sul da França e Jim Morrison
Todo alemão ou inglês (se não quiser exageros pode pensar em quase todos) tem o sonho de morar no sul da França. Alguns preferem o Algarve, em Portugal, mas não foi o caso de Dieter.
Naquela tarde de domingo, Dieter cantou tanto, gritou tanto nos acordes famosos de Jim Morrison que engolia a saliva sentindo um gosto de sangue.
Ele e a bela Inga, amavam o The Doors e sonhavam todos os dias com as tardes ensolaradas do Sul da França.
O avião partia no dia seguinte, bem cedo.
Depois de desembarcar no aeroporto de Montpellier, os dois deixaram as roupas no hotel e saíram a procura de uma imobiliária que pudesse mostrar alguma casa boa e barata.
Depois de uma semana já estavam mais ao sul, mais perto de Perpignan, quase Espanha.
Foi quando encontraram um suíço que deu a dica: Tem uma casa no meio das montanhas, quase não passa ninguém, o acesso é difícil, mas se vieram em busca do sol dessa terra abençoada é um bom lugar.
Ligaram para um corretor indicado pelo suíço e foram visitar a propriedade.
A casa estava caindo aos pedaços.
Tinha até um carro da segunda guerra abandonado no meio de um pequeno bosque.
Mas não foi a casa, nem o carro, nem o bosque que atraíram Dieter.
Na frente da casa, os vinhedos eram antigos e impressionantes.
As montanhas em volta e as uvas penduradas nos cachos faziam um cenário de cinema.
Inga sumiu entre os vinhedos, Dieter tentava baixar o preço e a proposta foi feita.
Morar na casa não foi possível, aquela zona fronteiriça, deserta e de acesso difícil era um prato cheio para todo tipo de fora da lei que pensava em transitar entre a França e a Espanha, mas arremataram tudo pensando nos vinhedos.
Mas fazer o que com eles?
Dieter foi logo dizendo: não quero químicos em minhas plantas, não quero nada que tire a pureza deste lugar.
Inga foi estudar.
Aprendeu os segredos da viticultura e vinificação e de resto, era deixar as plantas centenárias seguirem vivendo.
Nunca haviam pensado em produzir vinhos.
Colheram, levaram a primeira colheita para vinificar em um amigo e começaram a construção de uma vinícola minúscula.
Nessa época até fome passaram.
Só para contrariar, aquele ano teve um inverno frio que fez os dois pensarem que o sol do sul da França tinha fugido deles.
O verão foi quente, seco e as uvas da segunda colheita mais perfeitas e puras do que a primeira.
Dieter escolheu o biodinâmismo.
Os vinhos descansavam entre fotos do The Doors e do próprio Jim Morrison.
O nome dos vinhos estava na cabeça de Inga, mas ela não falava pra Dieter.
Ele saiu cedo para registrar os nomes dos rótulos, e quando ela percebeu bateu um desespero.
Os vinhos já tinham um nome na cabeça dela.
Pensava em algo que lembrasse o ídolo.
Ele estragaria tudo...
Dieter só chegou no fim da tarde.
Entrou com um sorriso no rosto, e dando pulos de alegria.
"Além de registrar já fizeram uma prova dos rótulos..."
Inga nem levantou os olhos para olhar pra ele.
O ânimo se transformou em decepção e ele logo perguntou: o que houve?
-Eu tinha os nomes na minha cabeça. Mais que isso, tinha todos anotados nesse papel em cima da mesa.
Dieter correu para a mesa ansioso e triste por não ter perguntado.
Olhou para o papel e ficou branco. Começou a rir imediatamente.
Ria, ria, ria...
Inga ainda brava perguntou: Está rindo de quê?
-Acha que não vi o papel antes de sair?
Claro que não viu, estavam comigo, na minha bolsa.
Veja então os rótulos? veja os nomes?
Quando Inga viu os nomes Wild Child, The End e Light My Fire traduzidos para o francês teve a certeza que Dieter não tinha visto os papéis, mas os dois estavam numa sintonia incrível...
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