Uma noite memorável no North Vila Nova.
Fui convidado pela Denise Cavalcante para um jantar regado a Achaval Ferrer, agora com importadora nova, a Inovini.
Acha que dá pra recusar?
Realmente não dá.
Visitei a Bodega no ano passado, mas confesso que a conversa como Cristian Duszkiewicz (foto acima) foi mais esclarecedora do que a fria recepção em Mendoza.
Claro que barricas, vinhedos e tanques são interessantes, mas são iguais. Pouca coisa muda de uma vinícola para outra.
Muda na cabeça de gênios como o italiano Roberto Cipresso (foto acima), que resolveu atender ao chamado de dois investidores, Achaval e Ferrer, que queriam entrar para o mundo do vinho.
No primeiro encontro, os dois queriam quantidade e Cipresso qualidade. Não deu certo!
Cipresso voltou para a Itália até que um click e um desligamento da empresa em que trabalhavam fizeram com que Achaval e Ferrer voltassem atrás e chamassem o italiano de volta para a Argentina.
Foi em 1999 o encontro entre Roberto Cipresso e o terroir perfeito em Mendoza.
Um vinhedo abandonado, no meio de um matagal, com as raízes soltas e uma estranha inversão de metabolismo dos vinhedos que faziam com que a planta despertasse durante a noite e protegesse as sementes.
As plantas estavam soltas, mas as uvas estavam lá, com concentração plena e qualidade que fez com que Cipresso telefonasse para os investidores em Buenos Aires: “Achei, precisamos comprar hoje”.
Claro que os dois pediram mais tempo, mas claro que o italiano não aceitou.
O dinheiro foi enviado e a pressa explicada.
Cipresso colheu aquelas uvas e vinificou.
1 ano depois aquele vinho recebeu 91 pontos da Wine Spectator.
Tempo em que a Argentina não recebia esse tipo de pontuação.
Antes disso porém, os investidores pegaram o avião, felizes da vida, para conhecer a propriedade que acabavam de comprar.
Quando viram o matagal não seguraram a língua.
Foi a primeira vez que o italiano escutou palavrões em espanhol com o sotaque tão típico portenho.
Aquele vinhedo abandonado valorizou demais, a região de La Consulta, em Tupungato também.
Os sócios ainda não terminaram de pedir desculpas à Cipresso. Isso acontece a cada safra, a cada vinho saído daqueles vinhedos centenários.
O italiano é tão caprichoso, que vai para a França e escolhe cada pedaço de madeira que deve se transformar nas barricas da Achaval Ferrer.
Só barricas francesas.
De lá pra cá a vinícola já engarrafou vários vinhos e as pontuações internacionais são de surpreender qualquer um.
Uma média feita pela vinícola, mostra que a média de pontos de todos os vinhos engarrafados, levando-se em conta a Wine Spectator e a Wine Advocate, de Robert Parker, a vinícola atinge incríveis 94 pontos.
A vinícola produz vinhos com uvas de vinhedos de quase 100 anos e de pé franco, sem enxerto.
Os vinhos são caros/
Sim, são caros.
Além da reputação, fama e pontuações internacionais, são necessárias 3 plantas para fazer apenas uma garrafa de vinho.
Provamos o Achaval Ferrer Malbec Mendoza com um Risoto de Gorgonzola com Nozes.
O ponto do risoto estava perfeito, o sabor do queijo gorgonzola na medida certa, medida que harmonizou muito bem com o vinho cheio de fruta, notas de violeta, baunilha, cacau e café.
Na boca o vinho é encorpado, tem excelente equilíbrio e elegância.
O final é longo e a acidez perfeita.
Notas de amêndoa no retrogosto.
Cristian explicou que não há intervenção nos vinhos, fora dos vinhedos.
Ou seja, a tão famosa correção de acidez com ácido tartárico não passa pela cabeça de Cipresso.
Tudo é resolvido nos vinhedos.
O Quimera 2007 é um vinho impecável.
Estagiou em barricas francesas por 14 meses.
Corte de Malbec, Cabernet Sauvignon, Merlot e Cabernet Franc é feito nos vinhedos, provando as uvas. É o momento em que Roberto Cipresso pensa o vinho.
Depois faz uma rápida fermentação separada e termina a vinificação já com as variedades misturadas.
No nariz, cassis, cereja, amora, violeta e alcaçuz.
Na boca, elegante, macio, encorpado, sem nenhuma aresta.
Final longo com notas de café.
Combinou perfeitamente com o Ojo de Bife Grelhado com as argentinas Batatas Souflé.
O Finca Mirador 2007 também acompanhou o mesmo prato e fechou com chave de ouro a imersão em Achaval Ferrer.
Outro vinho impecável!
No nariz amora, ameixa preta, mirtilo, baunilha, chocolate e alcaçuz.
Encorpado, elegante e equilibrado.
O final é longo.
Olhei para o lado e vi o Milton Neves provando o vinho como se presenciasse um título mundial do Santos. Acho que a memória fotográfica do Milton não vai esquecer dos vinhos Achaval Ferrer.
Nem que ele viva 200 anos.
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