terça-feira, 16 de agosto de 2011

O oceano entre Renata e Pietro






Naquele tempo, não tão distante assim, o fax quebrava um galho danado.

Depois de tantas conversas monossilábicas ao telefone, a primeira foto de Renata veio por fax.

Pietro via ansioso a saída do papel.
Os pés, joelhos, coxas, ventre, seios, rosto.
Era a primeira vez que via a imagem de Renata.
Uma brasileira que trabalhava em uma importadora que comprava boa parte dos vinhos de Pietro.
Da Sicilia, Pietro imaginava um encontro pouco provável, enquanto trabalhava duro naqueles vinhedos antigos que davam vinhos concentrados e apreciados por todos.
Renata brincou mandando no fax algumas medidas, bem abaixo da foto: 53 quilos, 1 metro e 57...
Pietro fugia um pouco da realidade no trato das vinhas e sentava com uma taça de Nero d'Avola  sonhando.
Foram 2 semanas de sonho até um telefonema relâmpago:
Arrivo domani!!!
Falava bem o italiano a bela Renata.
Talvez melhor que Pietro, que tinha um sotaque Siciliano tão forte, que entender era uma proeza.

Não teve um minuto de sono.

No avião, Renata ficava entre o medo, a vontade de ver Pietro e uma certa censura ao ato impulsivo de cruzar o atlântico com o único objetivo de passar uma semana com alguém que nunca viu na frente.
A ansiedade do italiano foi mais longe e ele chegou ao cúmulo de dormir no carro pensando no momento de partir para o aeroporto buscar Renata.
Chegou 3 horas antes e não deu folga ao pessoal do balcão da Alitalia.
Enfim a hora chegou.
1 metro e 57 virou facilmente 1 e sessenta com os saltos.
Os olhos entre a ansiedade e a emoção olhavam fixos para Pietro, que pulou da cadeira e foi ao encontro de Renata como se ela fosse uma velha conhecida.
O abraço veio seguido de um beijo inevitável, esperado, planejado nos mínimos detalhes dos sonhos daquele italiano.
No carro os olhares não desviavam, as palavras eram escassas, o sotaque Siciliano de Pietro estava ainda pior.
A semana teve tudo que qualquer casal de namorados podia imaginar.
Além de muitos vinhos, passeios pelos vinhedos, vistas do Etna, praia, sol, paixão.
Dois dias antes da partida a alegria abria um pequeno espaço para a preocupação.
A distância nesses casos é implacável!
O espaço de preocupação foi crescendo aos poucos até chegar ao desespero na hora em que Renata arrumou a mala.
O caminho até o aeroporto foi silencioso, pensativo.
Pietro não foi ao portão de embarque.
Os Sicilianos não gostam de chorar em público.
Foi na saída do carro o momento mais duro.
O beijo mais sentido, a despedida mais doída.
Os seis meses seguintes foram de planos, saudade e dúvidas.
Valeria a pena brigar contra um oceano inteiro?

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