sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

A palavra de Silvio era a razão, a de Patricia, emoção.



Quando se vive num lugar tão pequeno se conhece menos gente.

Isso Pietro tinha certeza.

Dos 336 habitantes da pequena Vergemoli, na Toscana, Pietro conhecia todos.

Entre eles muitos velhos, muitas crianças e poucos jovens.

A maioria ia para Firenze ou Lucca e deixava a pequena vila para os pais e avós.

Pietro cuidou a vida toda dos vinhedos.

Nunca pensou em sair de lá.

Signore Silvio era um homem de fiducia.

Todos os moradores sabiam que nele era possível confiar em qualquer situação.

Pietro trabalhava nos vinhedos de Silvio desde os 16 anos.

Já tinha 20 anos de trabalho.

A fama da honestidade de Silvio era tão grande que houve um abaixo assinado para que ele mudasse de nome para não ser xará do outro Silvio.

O primeiro ministro que gostava de festas e colecionava escândalos de todo tipo.

O nome continuou o mesmo e a honestidade também.

Pietro já estava acostumado, se Signore Silvio desse a palavra, o mundo poderia cair.

Se prometesse alguma coisa então nem sob tortura deixaria de honrar a palavra.

Como Pietro conhecia pouca gente, vivia seguindo o exemplo das pessoas com quem convivia.

Para exportar o tanto que precisava Silvio usava o seu maior bem: a palavra.

Dizia sempre: pode comprar mais garrafas que eu garanto comprar de volta caso não vende.

Nem precisava cumprir a palavra, mas se precisasse compraria mesmo.

Aos Sábados, Pietro aproveitava as noites de Firenze e outras cidades vizinhas onde toda a população de Vergemoli caberia numa pista de dança.

Foi aí que Patricia entrou na história.

Dançaram por mais de 2 horas até que o cansaço foi seguido de um beijo que virou um abraço e se transformou numa paixão.

Aquela morena alta, de olhos verdes e uma covinha na bochecha era a perdição dos jovens fiorentinos.

Na Segunda, o primeiro atraso.

Se repetiu na quinta, sexta e nas duas semanas seguintes.

Foi quando Silvio, já informado da paixão chamou Pietro.

-Já pensou se o trabalho fosse apenas para os solitários, mal amados e infelizes?

Os vinhos seriam catastróficos.

-Porque diz isso Signore Silvio?

-Desde que conheceu a moça da cidade começou a deixar o trabalho em segundo plano e uma coisa não elimina a outra.

- Ela é a mulher da minha vida Signore, prometeu ficar comigo pra sempre, nunca mais se interessar por mais ninguém e jamais deixar de me amar.

-Em poucas semanas te disse tudo isso???

A conversa durou mais alguns minutos e Signore Silvio deixou Pietro com seus sonhos e seguiu para a cantina.

Os vinhos tinham a cara de Silvio.

Eram confiáveis em todas as safras.

Na trágica safra de 2002 não engarrafou nada.

Não enganaria nem um pernilongo.

Pietro continuou com os atrasos até que a alegria se transformou numa tristeza que beirava o desespero.

O horário passou do atraso ao exagero.

Pietro chegava antes do dia clarear e entrava pela noite cuidando de cada galho, cada folha.

-Pietro o que está fazendo?

-Ela me deixou Signore. Tudo que havia prometido foi embora como um soluço.

-E porque achou que ela cumpriria as promessas?

-Estranho ouvir isso do Signore, promessas se cumprem, não?

-Não as promessas feitas no momento da paixão.

A paixão é como a embriaguez.

Anda, cura a ressaca meu caro!!!






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