Por Una Cabeza...
Javier é um rapaz gordo, com as bochechas vermelhas, rosto redondo e
mania de dar ordens.
A forma de falar sem rodeios e com uma voz grossa o
rouca é quase uma regra por estes lados da península ibérica.
Estamos
em Rioja, no meio de um vinhedo pronto para ser colhido, com os cachos
maduros virados para o sol.
Javier programou a colheita para
quinta-feira (seria a maturação ideal) mas os seus vizinhos se apressam
acreditando na previsão do tempo que garante que a chuva vai aparecer a
qualquer momento.
Os vizinhos avisam Javier: "Loco! te vas a perder
todo."
Javier, não sei se por teimosia ou conhecimento acenava com a mão como quem diz: esperem pra ver.
O
céu ficou preto, o vento soprava mais forte e as colheitas em volta iam
terminando.
Havia quem olhasse Javier com respeito, mas a grande
maioria ria e balançava a cabeça.
Javier não se importava, estava
imóvel, com um cigarro no canto da boca e os olhos fixos nas nuvens que
ameaçavam o seu trabalho de um ano inteiro.
E o vento soprava!
Uma
parte da grande nuvem já havia se afastado e dava pra ver uma mancha de
água caindo do céu. Javier a essa altura acreditava na força do vento e
as nuvens iam se afastando.
A parte alta do vinhedo de Javier já estava
livre das nuvens e a chuva já caía sobre as plantações vizinhas.
Mais um
pouco de vento e veio o sol.
Javier pôs as mãos nos bolsos e saiu
como se tivesse visto uma sessão se cinema, os vizinhos alardeavam a
sorte do amigo.
O pessoal da colheita já marcava com Javier o encontro
para a quinta-feira e ele, com um cinismo no rosto, apenas disse: Ha
sido por una cabeza...
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